quarta-feira, 13 de março de 2013

Fado - Miguel Rebelo


Com quantas forças eu tinha

Sabias que a verdade era só uma
Mentias sem falares de coisa alguma
Fugias quando o amor te perguntava
E a resposta então tardava
Por não te sobrar nenhuma

Deixavas uma réstia de sorriso
Um beijo, sempre frio e indeciso
O tempo que entregavas era pouco
E eu ficava quase louco
Se partias sem aviso

Amei-te
Com quantas forças eu tinha
Pensando que eras só minha
Deixaste-me Acreditar

Na vida
Se aprende sofrendo também
Há males que vêm por bem
Mas não deixarei de Sonhar

Vivendo neste estranho encantamento
Sentindo transformar-se em desalento
Dorido, porque o amor se quer presente
Sofrido por estar ausente
Num coração desatento

Partiste mais feliz do que chegaste
Pedi-te, mesmo assim tu não ficaste
O tempo que era pouco e infeliz
Agora é ele que me diz
Felizmente, não voltaste

Música: Miguel Rebelo




Fado - Miguel Rebelo

O que nos falta sentir

Algo mais
Ficou por dizer
Tudo mais
Era outro dia
Nada acontecia
Mais
Como se amar já nos fosse demais
Como se o tempo não quisesse
Como se um olhar nada fizesse
Mais

Fomos nós
Um pedaço de ilusão?
Então porque estamos tão sós
No reverso da paixão?
Assim, porque não,
Renovar,
Repartir,
Encarar,
Abarcar o que nos falta sentir?

Quando teu
Ficou por dizer
Sendo teu
Nessa madrugada
Era todo ou nada
Teu
Como se o amor não fosse apenas meu
Como se a noite nos quisesse
Como se um sonho me fizesse
Teu

Fomos nós
Um pedaço de ilusão?
Então porque estamos tão sós
No reverso da paixão?
Assim, porque não,
Renovar,
Repartir,
Encarar,
Abarcar o que nos falta sentir?

Música: Miguel Rebelo/Marco Rodrigues



Fado - Miguel Rebelo


Quero, não quero

Não quero que te vás tão cedo embora
Não quero que te vás, ponto final
Eu quero que me sintas junto a ti aqui, agora
Também quero que o teu querer seja igual

Não quero que me dês só mais um beijo
Não quero que o meu beijo diga adeus
Eu quero que esta noite seja nossa, por desejo
Também quero que os meus sonhos sejam teus

Eu sei que a madrugada assim nos quer
Um homem, um amor, uma mulher
Eu sei, vai amanhecer sem fugirmos de nós

Não sei se ao raiar o sol nos traz
De novo o que o amor, amando faz
Não sei, mas amanheceu e ficámos a sós

Música: Miguel Rebelo


terça-feira, 12 de março de 2013

Fado - Miguel Rebelo


Esta paz a que chamam tristeza

Resguardo
O meu corpo do frio
E alargo
Os meus olhos no mar

Ao vento
Canto fados ao rio
Que com eles vai vadio
Se deixar navegar

Abraço
Esse céu que me atrai
E afago
A minha alma ao luar

E choro
Porque a lágrima cai
Mas a voz não me trai
E me deixa cantar

E és tu
Meu porto seguro
Que me trás
Esta paz
Que cantando procuro

E és tu
Canção portuguesa
Que me dás
Esta paz
A que chamam tristeza

Ao tempo
Só a vida lhe entrego
E à noite,
Vou lhe dando a paixão

No peito
Guardo a dor que renego
De um amor quase cego
Mas que nunca diz não

Ao Tejo
Muitas vezes me abeiro
E na margem
É a Deus que suplico

E ao fado
Meu fiel companheiro
Meu sentir derradeiro
Meu poema dedico

Música: Miguel Rebelo


Fado - Miguel Rebelo

Seguem-se agora os originais. Todos com músicas do Miguel e um deles com a parceria do Marco Rodrigues.

Manda-chuva (o gaiteiro)

Cadencia marcada
Na marcha que é lenta
Empurrando a roda
Na manhã cinzenta

Já enche a calçada
Com sons de gaiteiro
Na pausa merecida
Do homem andeiro

E a roda parada
Sem tocar o chão
Aguarda a resposta
Depois do pregão

E vem a menina
Com ar de donzela
Trazendo a sombrinha
Que diz não ser dela

“-Varetas senhor!
Parecem ser três,
Sombrinha de estima
Morreu quem a fez”

Vem também a Rosa
No bairro “a peixeira”
Traz facas de amanho
Quer ser a primeira

Tem freguês na banca
Não pode esperar
Que lhe dá sustento
É que é de estimar

Navalhas de barba
Tesouras de pano
Na manhã mais bela
E cinzenta do ano

E a roda já roda
Sem tocar o chão
Foi boa a resposta
Depois do pregão

Música: Miguel Rebelo


Fado - Miguel Rebelo


E nunca é cedo de mais

Aqui olhando o estuário
Vejo o bailado diário
Das gaivotas do meu rio
Umas vão rasando as águas
Outras pousadas nas tábuas
Do que resta de um navio

Junto à salina esquecida
Agora triste e sem vida
Outrora ouro salgado
Oiço a Lisboa moderna
Cantar da forma mais terna
A tradição que há no fado

Atravesso então o Tejo
Levo comigo o desejo
De rever minha cidade
Só assim sentindo o chão
Vou enchendo o coração
E esvaziando a saudade

Minha Lisboa é meu cais
E nunca é cedo de mais
Para prender as amarras
Entrar num bairro bairrista
Ouvir uma voz fadista
E chorar com as guitarras

Música: Frederico de Brito (Fado Azenha)


Fado - Miguel Rebelo


Com alma e esperança

Se o fado não cantar as duras penas
Alguém irá dizer que não é fado
Tristeza, mágoa, dor, mesmo pequenas
Com ele têm de andar de braço dado

Traições e desamores sendo constantes
Não são somente motes dos poetas
São histórias retratadas dos amantes
Cantadas pelas vozes indiscretas

Porém a vida é farta em desventuras
De ontem, de amanhã e do presente
Que o fado cante então as amarguras
Que vão cobrindo o sol da nossa gente

São nuvens carregadas de incerteza
E ventos agitados de vingança
Porém se a nossa voz for a firmeza
O fado cantará com alma e esperança

Música: Júlio Proença (Fado Esmeraldina)


Fado - Miguel Rebelo

Nem irei chorar por ela

Procurei teus sentimentos
Nas palavras que deixaste
Quando partiste de mim
Transcrevias só momentos
Dos quais apenas guardaste
Alguns pedaços do fim

Entendi que tu amavas
De forma tão consciente
Com reticencias a mais
Pois assim não te entregavas
Se o amor fosse exigente
E te pedisse demais

Quase nunca repetias
Frases de afecto sentido
Escondido no teu coração
Qualquer gesto que fazias
Era sempre tão contido
Desprovido de emoção

Não estranhei a despedida
E para falar verdade
Nem irei chorar por ela
Porque o amor é como a vida
Há que dela ter vontade
Para que fique mais bela

Música: Pedro Rodrigues (Fado Pedro Rodrigues)


Fado - Miguel Rebelo

Aqui vos deixo uns pequenos "aperitivos" dos temas que escrevi para o novo CD do Miguel Rebelo "O Nosso Fado hoje é do Mundo".
Começo pelos tradicionais:


Dar de mão

Se agora não existe o dar de mão
Que nos manteve unidos lado a lado
Também já não palpita o coração
Tal como quando andava enamorado
Também já não palpita o coração
E triste vai batendo amargurado

As vezes que beijámos foram tantas
Que o tempo ao contá-las se perdeu
As juras e promessas! Nem sei quantas
Cumpridas, poucas foram, senti eu
As juras e promessas! Nem sei quantas
Mentiam quando o amor desapareceu

Sorrisos verdadeiros existiram
Cumplicidades certas por momentos
Afagos, nossos corpos repartiram
Num estranho enlaçar de argumentos
Afagos, nossos corpos repartiram
Num parco demonstrar de sentimentos

Se agora o dar de mão for despedida
E os lábios um encontro recusarem
O coração batendo já sem ferida
Permite nossos olhos se afastarem
O coração batendo já sem ferida
Não chora quando as mãos se separarem

Música: Miguel Ramos (Fado Alberto)