quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Fados - Sabe bem

Sabe bem

Sabe bem quando amanhece
Minha vida assim merece
Um dia a clarear
Meu sorriso é a manhã
E o sol um bom galã
Que nasceu p’ra me acordar

Vou ficando mais um pouco
O relógio já está rouco
De tanto me querer dizer
Que o tempo já se me aperta
Se me enrosco na coberta
Nada mais pode fazer

Abraçar o dia inteiro
E o sentir verdadeiro
Tenho de o ver nascer
Olho o céu mesmo cinzento
Fica azul naquele momento
Porque assim o quero viver

Música: Júlio Proença (Fado Proença)

Fados - Lisboa é mais Lisboa

Lisboa é mais Lisboa

Lisboa veste azul quando amanhece
Trajada com a cor que o céu lhe empresta
O sol fá-la brilhar como merece
E a vida é como se acordasse em festa
Lisboa abraça o céu e não se esquece
Que só pode brilhar se for modesta

Num cais o desembarque em corrupio
Renova uma paisagem sempre bela
O dia nasce e enfrenta o desafio
De dar sempre a Lisboa o que é só dela
Num cais é a paisagem deste rio
Que faz desta cidade uma aguarela

Se quem já a viveu, chama-lhe sua
Somente quem a quer, a sabe ter
Lisboa é cada praça, cada rua
É tudo o que só ela sabe ser
Cidade onde a saudade se acentua
Por quem só por amor sabe viver

A noite traz a Lua e o luar
E o Tejo corre agora descansado
Lisboa muda a cor do seu trajar
E faz de cada bairro um namorado
Lisboa mais Lisboa vai ficar
E por ser tão fadista, canta o fado

Música: Casimiro Ramos (Fado Margaridas)

Fados - Já despi a solidão

Já despi a solidão

Quero despir a solidão
E tirar do coração
Este amor atraiçoado
Que o vento o leve consigo
Mas deixe a mágoa comigo
Por tanto te ter amado

Coração arrependido
De tanto se sentir ferido
Por chorar sem se conter
Vai bater mais lentamente
Porque a dor que ainda sente
Com o tempo vai morrer

Por ciúme e por paixão
Sofre qualquer coração
Como assim sofreu o meu
O amor é traiçoeiro
Finge até ser verdadeiro
Fingido me deste o teu

O adeus bateu-me à porta
Agora já nada importa
Deste amor eu me despeço
Já despi a solidão
Libertei meu coração
À tristeza não regresso

Música: Alfredo Marceneiro (Fado Cravo)

Fados - Se o meu olhar

Se o meu olhar

Entre o mar e o horizonte
Meu olhar lá anda a monte
Sem fugir da realidade
Como um barco a navegar
Que não volta a naufragar
Nessas ondas da saudade
Como um barco a navegar
Que não volta a naufragar
Nessas ondas da saudade

E assim eu sei
Que não serei apenas mais feliz
Se o meu olhar voltar a pedir bis
Àquele olhar que eu encontrei

Meu olhar está mais severo
Nega tudo o que não quero
Não me mostra o imperfeito
Vagueando noite e dia
Com a vida como guia
Põe de lado o preconceito
Vagueando noite e dia
Com a vida como guia
Põe de lado o preconceito

E assim eu sei
Que não serei apenas mais feliz
Se o meu olhar voltar a pedir bis
Àquele olhar que eu encontrei

Meu olhar já descobriu
Quando dizem que ele é frio
É porque o não sabem ler
Nunca por nunca a frieza
Deixou de ter a certeza
De tudo o que lhe quer dizer
Nunca por nunca a frieza
Deixou de ter a certeza
De tudo o que lhe quer dizer

E assim eu sei
Que não serei apenas mais feliz
Se o meu olhar voltar a pedir bis
Àquele olhar que eu encontrei


Música: Jaime Tiago dos Santos (Fado Alvito c/ refrão)

Fados

Como venho repetindo, todas as letras que aqui exponho para além de já terem destino, estão todas declaradas na SPA. As que não estão e são bastantes, irão aparecer quando atingirem essa condição.
Todas as que foram escritas para fados tradicionais, têm a devida autorização dos autores ou seus herdeiros.
Essas autorizações para além de serem uma obrigação legal, são fundamentalmente uma enorme responsabilidade.
Muito me honram e me encorajam a continuar a escrever para Fado.
Quando for possível disponibilizar áudio ou vídeo, assim o farei.
Seguem-se então quatro letras nestas condições.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Fados - Nossa raiz


Nossa raiz

Se amar for condição p’ra ser feliz
A vida nos juntou a condizer
O amor que há em nós dois é a raiz
De toda e qualquer flor que há-de nascer

Se amar p´ra muita gente for pecado
Seremos pecadores sem penitência
Promessas serão feitas de bom grado
Se forem por amor e sem decência

Se dizem que este amor é doentio
Doentes nós seremos sem ter cura
Se amar, sentir, querer é desvario
Então nossa paixão será loucura

Se dizem que é vulgar o que sentimos
Então porque de inveja vão chorando?
O amor nunca estará onde pedimos
Mas sim onde a paixão nos vai levando


Música: André Ramos

Fados - Nosso fado ancorou


Nosso fado ancorou

Enquanto a minha voz se repetia
Cantando nosso fado com saudade
Sentia no meu rosto a maresia
E dentro do meu peito a ansiedade

Do cais até à barra ainda vejo
Telhados do meu bairro lá no alto
Depois só resta mar e o desejo
De ir e de voltar sem sobressalto

As ondas companheiras de viagem
Por vezes se revoltam sem razão
E fazem realçar toda a coragem
De quem na dura faina ganha o pão

As redes ficam cheias de alegria
Da cor que o pescador tanto sonhou
Agora pode já nascer o dia
Que ao cais o nosso fado ancorou


Música: Miguel Ramos (Fado Alberto)

Fados - Uma gota de alegria




Uma gota de alegria

Cinco dedos deslizantes
Cinco toques, tão errantes
Num harpejo de ternura
Tua mão na minha pele
Meu desejo mais fiel
Neste amor que não tem cura

Se os teu lábios me pedirem
Se os teus olhos me sorrirem
Os meus não dirão que não
Receptivo, vou ficando
E teus dedos vão tocando
Na palma da minha mão

Os meus olhos se fecharam
E os teus não repararam
Numa lágrima caída
Uma gota de alegria
Que transforma a noite fria
No calor da minha vida


Música: José António Silva (Fado Bacalhau)

Fados

O facto de me ter habituado a escrever preferencialmente sobre as melodias, tornou muito mais fácil a minha abordagem ao fado. As duas letras que escrevi para fados tradicionais deram-me alguma vontade de continuar nessa área. Comecei a procurar novos contatos e a disponibilizar-me para escrever. Com algum espanto, verifiquei que muitos fadistas procuravam quem pudesse escrever para eles. Sem grande preocupação seletiva mas apenas com vontade de entrar nesse meio, fui tendo as primeiras escritas aceites por alguns fadistas.
Hoje são já cento e doze as letras que escrevi, algumas já aqui estão, as outras virão conforme os trabalhos vão saindo ou os cantadores e cantadeiras assim os divulguem por esses retiros do fado.
Apesar de muitos dos trabalhos me tenham surgido diretamente, tenho de agradecer ao Rui Diogo e à sua editora Saudade, as “encomendas” que me tem feito. Os frutos começam a surgir e o primeiro trabalho a sair será de Pedro Galveias intitulado Loucuras de um Fado. Tenho neste CD três letras. Duas em tradicionais e um original.
São estes os que se seguem por aqui.
Assim o faço porque estão devidamente autorizados e declarados, já passam nas rádios e um deles (Uma gota de alegria) faz mesmo parte da Play List da Rádio Amália.

sábado, 1 de outubro de 2011

Fado - Ficou mudo (Fado marcha Zé Marques do Amaral)

Meu olhar não te diz nada
Ficou mudo, o meu olhar
Sua voz lhe foi roubada
Só sabe agora chorar

Meus olhos caiem ao chão
Quando te vêem passar
Sabem que têm razão
Mas não se vão levantar

Era doce o meu olhar
Dizia o teu, eu sentia
O tempo fez relembrar
O quanto ele me mentia

Agora sinto o que vejo
E não me deixo enganar
Já não te mostro o desejo
Já não te dou meu olhar


Música: José Marques do Amaral

Fado - Deixaste a porta aberta (Fado Licas)

Deixaste a porta aberta e eu entrei
Guardavas tuas mágoas do passado
Senti que era cedo e então esperei
Sem não me arrepender de ter entrado.

Sabia que o teu peito resguardava
Lágrimas escorridas do teu rosto
Que tua voz por vezes se embargava
Por força do amor e do desgosto

Teus olhos eram réstias de um sorriso
Mas teus lábios transbordavam de desejo
Mudos mas repletos de improviso
Pareciam aguardar por novo ensejo

Toquei-te pois teu corpo me pedia
E o tempo que esperei já se expirava
Fechei então a porta pois sabia
Que agora já ninguém por ela entrava.


Música: Armando Machado

Fado - Minha Lisboa cidade


Sonhei contigo Lisboa
E amei-te sem pecados
Com teu Tejo como leito
Em lençóis amarrotados

Numa fronha ribeirinha
Encostei teu rosto ao meu
Recordámos com saudade
Um pregão que já foi teu

Beijei as sete colinas
As tuas varinas
Um teu bairro antigo
Rezei ao teu padroeiro
E num cacilheiro
Naveguei contigo

Cantei a tua canção
Com arco e balão
Na marcha bairrista
E tu ali a meu lado
De xaile traçado
Com teu ar fadista

Sonhei contigo Lisboa
Enamorada fiquei
E acordando fico triste
Por não ter o que sonhei

Mas ao ver-te à luz do dia
Vejo que tudo é verdade
Vou-te amando como sempre
Minha Lisboa cidade

Beijo as sete colinas
As tuas varinas
Um teu bairro antigo
Rezo ao teu padroeiro
E num cacilheiro
Navego contigo

Canto a tua canção
Com arco e balão
Na marcha bairrista
E tu aqui a meu lado
De xaile traçado
Com teu ar fadista


Música: Miguel Rebelo

Fado - Resgate

As magoas que guardo da vida
Da memória não quero apagar
A ferida que não foi lambida
Mesmo o tempo não a faz sarar

Angustias tatuadas sem cor
A tristeza vestida a rigor
Uma voz rouca a carpir minha dor

De luto fui trajando a alma
Moribunda, tenho a esperança
A raiva que nunca se acalma
Revoltando a boa lembrança

Desgostos o vento não leva
São pecados sem Adão nem Eva
O destino que por se cumprir, me releva

Será que trago traçado
No rosto e no fado
Desgosto de amor?
Será que sou indiferente
Alguém que não sente
Paixão e fervor?

Depois, olhando o céu
Solto o que é meu
Choro a cantar
No coração
Vou resgatar
Minha canção

As magoas que guardo na alma
Na memória, apenas esperanças
Da ferida que nunca se acalma
O tempo me trás as lembranças

Angustias o vento não leva
A tristeza de Adão e Eva
Uma voz rouca a cumprir, me releva

Será que trago traçado
No rosto e no fado
Desgosto de amor?
Será que sou indiferente
Alguém que não sente
Paixão e fervor?

Depois, olhando o céu
Solto o que é meu
Choro a cantar
No coração
Vou resgatar
Minha canção


Música: Miguel Rebelo

Fado - Indiscreto e infinito

Será que te encontrei
De madrugada
Num sonho de Pecado Original
Depois de te despir
De quase nada
Amei o teu amor
Imparcial

Entrei em nossas vidas
Enlaçadas
Tentando desfazer o imperfeito
Levada por palavras
Sussurradas
Nos sons do nosso amor
Já sem defeito

E tu que sem falar
Me delataste
Num amar tão indiscreto e infinito
Sorriu então teu olhar
E olhando no meu me perdoaste
O que em mim era afecto mas em ti era delito

Pintámos para sempre
As emoções
Com gestos coloridos de prazer
Deixando nessa tela
As confissões
De quem só por amor
Se quer perder

Errantes na partilha
Desmedida
De actos descobertos sem rigor
Guardámos com ternura
Destemida
O que só para nós
Não é menor

E tu que sem falar
Me delataste
Num amar tão indiscreto e infinito
Sorriu então teu olhar
E olhando no meu me perdoaste
O que em mim era afecto mas em ti era delito


Música: Miguel Rebelo

Fado - Na minha rua

Na minha rua
Mora a saudade
Daquele amor que sem saberes, vivi
Só esta rua
Sabe a verdade
Meu coração não se esqueceu de ti

E vivo este amor
Ainda presente
Futuro, foi sonhado a teu lado
Passado se existiu
Não está ausente
No amor que só por mim
Foi conjugado

Na minha rua
Vive a ansiedade
De um coração que por amor chorou
Só esta rua
Guarda a vontade
Dessa paixão que nunca te encontrou

E vivo este amor
Ainda presente
Futuro, foi sonhado a teu lado
Passado se existiu
Não está ausente
No amor que só por mim
Foi conjugado

Na minha rua
A eternidade
É este amor, meu louco amor, sem fim


Música: Miguel Rebelo

Fado - Esta paz a que chamam tristeza

Resguardo
O meu corpo do frio
E alargo
Os meus olhos no mar

Ao vento
Canto fados ao rio
Que com eles vai vadio
Se deixar navegar

Abraço
Esse céu que me atrai
E afago
A minha alma ao luar

E choro
Porque a lágrima cai
Mas a voz não me trai
E me deixa cantar

E és tu
Meu porto seguro
Que me trás
Esta paz
Que cantando procuro

E és tu
Canção portuguesa
Que me dás
Esta paz
A que chamam tristeza

Ao tempo
Só a vida lhe entrego
E á noite,
Vou lhe dando a paixão

No peito
Guardo a dor que renego
De um amor quase cego
Mas que nunca diz não

Ao Tejo
Muitas vezes me abeiro
E na margem
É a Deus que suplico

E ao fado
Meu fiel companheiro
Meu sentir derradeiro
Meu poema dedico


Música: Miguel Rebelo

Fado - Alice

Perdi a conta às vezes que ouvi
A tua boca a dizer mal de ti
Que te roías de inveja e ciúme
Que a tua vida era magoa e queixume

Perdi a conta às horas passadas
A ouvir tristezas de amor recalcadas
Que te sentias sozinha no mundo
Que a tua dor era um poço sem fundo

Quantas vezes, eu te disse, Alice
Que essa coisa da paixão é tolice
Faz o coração bater desgarrado
E sem saber a quem ouvir

Quantas vezes, eu te disse, Alice
Que essa coisa do amor é uma chatice
Um coração a sofrer, maltratado
E sem saber o que sentir

Perdi a conta ao choro e ao pranto
Mais uma vez te encostaste a um canto
Perdeste a esperança de te ver feliz
Só queres ouvir o que ninguém te diz

Perdi a conta às preces conjuntas
E às respostas sem terem perguntas
Chegou a hora de parar pra pensar
Só quem se ama se deixa amar

Quantas vezes, eu te disse, Alice
Que essa coisa da paixão é tolice
Faz o coração bater desgarrado
E sem saber a quem ouvir

Quantas vezes, eu te disse, Alice
Que essa coisa do amor é uma chatice
Um coração a sofrer, maltratado
E sem saber o que sentir

A quem ouvir
O que sentir
A quem ouvir


Música: Miguel Rebelo

Fado - Sou algarvia do mundo

Trago nas veias o sul
Meu sangue tem a cor mourisca
As mãos molhadas de azul
Do mar onde o homem se arrisca

Canto um fado corrido
E bailo com passo mandado
Arade na serra nascido
Meu peito por ele é banhado

Na ria que chamam Formosa
Os homens cultivam seu pão
Amêndoa de flor tão airosa
Medronhos que caem ao chão

Quadra de Aleixo cantada
Escola de bem marear
Histórias de moura encantada
Na Ponta virada p´ro mar

Terra de gente com brio
Que meu coração faz bater
Fez pesca ao candeio no rio
De fome não sabe morrer

Sou algarvia do mundo
Eu canto com alma e com garra
Pois digo o que vai no fundo
De um povo que à vida se amarra


Música: Miguel Rebelo

Fado - Fado onde navego

O segundo convite para escrever para fados surgiu novamente do Miguel para um trabalho que iria ser gravado por uma cantora algarvia com produção do Armindo Neves. No inicio seriam apenas dois temas originais. O trabalho foi andando e quando se entrou em estúdio eu já tinha sete originais com o Miguel e pela primeira vez, dois temas sobre fados tradicionais.
Mais para a frente falarei desta nova faceta de escrever para tradicionais.
O trabalho intitulava-se Fado onde navego, mas por birras e outras coisas mais, nunca chegou a ver a luz do dia.
Fiquei bastante desiludido, não só por se tratar de um trabalho maioritariamente de minha autoria, como também porque muitos dos temas eram de facto muito agraváveis.
Contudo um deles irá sair em breve na voz de outra fadista. A seu tempo aqui desfilará também. Os restantes, talvez com tempo venham a ser editados por alguém. Assim espero.
Apesar de ter todos os temas tal como saíram do estúdio, vou apenas disponibilizar as letras. As minhas regras assim o ditam.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Fado - Ó poetas do meu povo




Ó poetas do meu povo

Ó poetas do meu povo
Narrai comigo este fado
Com palavras me comovo
Num sentir amargurado

Ó fadistas das vielas
Descantem este meu fado
Pois assim à luz das velas
Meu lamento foi cantado

Ó amor da minha vida
Só te quero a meu lado
Ainda espero que um dia
Tu encaixes no meu Fado

Este Fado que vos canto
Transbordando de emoção
Por amor e fé, levanto
Minha voz da tradição


Música: Miguel Rebelo

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Fado - Há quem o chame vadio




Há quem o chame vadio

Tem a alma do povo
Dor, destino e saudade
Canto do homem novo,
A mágoa e a esperança
O rio, a cidade.

Foi fidalgo embuçado
Cavalo, toiro e campino
Sempre de boca em boca
Desde menino

Chegou à Mouraria
Pela voz de uma mulher
Andou na Madragoa
Com as cores dum malmequer
Alfama fez-lhe a corte
E ofereceu-lhe um manjerico
E foi no Bairro Alto
Que arranjou um namorico

Soam trinados nos céus
Sons de amor à guitarra
Versos que sendo tão seus
Evocam lamentos
Cantados com garra

Há quem o chame vadio
Pobre por ser desgarrado
Triste sina a de quem
Nunca canta o fado

Chegou à Mouraria
Pela voz de uma mulher
Andou na Madragoa
Com as cores dum malmequer
Alfama fez-lhe a corte
E ofereceu-lhe um manjerico
E foi no Bairro Alto
Que arranjou um namorico


Música: Miguel Rebelo

Fado - Quem foi que te fez fado?




Quem foi que te fez fado?

Quem foi
Que te fez mergulhar
Tua voz ancorar
Sem passar pela barra
Quem foi
Que te fez navegar
E depois naufragar
Nesse mar de guitarra

Quem foi
Que te deu essa luz
Qual pranto na cruz
Que no mar ecoa
Diz quem foi
Que ao céu te levou
E assim te chamou
P’ra sempre Lisboa

Quem foi
Que te fez alcançar
E depois recordar
Esse lado da vida
Quem foi
Que te quis abraçar
Tua tez afagar
Como que em despedida

Quem foi
Que te deu esse rio
Qual leito de brio
Que no mar se escoa
Diz quem foi
Que ao céu te chorou
E assim te cantou
P’ra sempre Lisboa

Quem foi
Que te fez madrugar
Tua voz entoar
Só por ser malfadada
Quem foi
Que te deu esse olhar
E te quer a chorar
Essa dor magoada

Quem foi
Que te deu esse rio
Qual leito de brio
Que no mar se escoa
Diz quem foi
Que ao céu te levou
E assim te chamou
P’ra sempre Lisboa

Quem foi
Se souberes diz quem foi
Que só sem querer
Te fez renascer
Quem foi
Se souberes diz quem foi
Que te fez viver
Teu nome mulher
Quem foi
Se souberes diz quem foi
Que te fez fatal
Tão pura e leal
Quem te deu
Esse amor
Esse fado a rigor
A ti


Música: Miguel Rebelo

Fado - A Rosa e o Chico (uma historia de amor)




A Rosa e o Chico
(uma historia de amor)

A Rosa d'Alfama
Trabalha na copa
De um bar afamado
E já criou fama
De fazer a sopa
A cantar o fado

E diz quem provou
Que nunca encontrou
Um sabor assim
Um gosto a guitarra
A noites de farra
E paixões sem fim

O Chico das mesas
Ganhou pela Rosa
Amor e carinho
E cheio de incertezas
Pediu-a por esposa
Dizendo baixinho:

"- És mulher prendada
Tens dotes de fada
E és destemida
Eu sonho acordado
Viver a teu lado
P'ro resto da vida"

E tal foi o espanto
Que a Rosa Maria
Ficou sem falar
E o Chico entretanto
Da copa fugia
Com o rosto a corar

E ninguém pensava
Que a Rosa aceitava
Noivar o lacaio
E contra o esperado
Ficou combinado
Casamento em maio

Juntaram mobília
Faianças do norte
E mudas de cama
Álbuns de família
Medalhas de sorte
E um quadro d'Alfama

E num lar modesto
Feliz e honesto
Ficaram depois
E criando os filhos
Sem terem cadilhos
Viveram a dois

Música: Miguel Rebelo

Fado

É no Fado que tenho concentrado ultimamente quase todas as minhas energias. Tudo começou com mais um convite do Miguel Rebelo para lhe escrever algumas letras. Há muito que lhe tinha dado uma, A Rosa e o Chico (uma historia de amor) que ele aproveitou e musicou. Como estava com ideias de produzir um CD de Fados, porque não continuarmos com a nossa já velha parceria?
Começamos a trabalhar e acabámos por fazer mais três temas. Mais poderiam ser não fosse alguma intransigência do produtor.
Contudo o trabalho foi gravado e após algum tempo e com grandes vicissitudes pelo meio, lá veio para a rua.
Foi para este trabalho que tive o grato prazer de ver uma letra minha musicada pelo grande Rui Veloso, só que infelizmente ficou na gaveta. Alguém um dia me vai explicar o porquê.
Como é normal, vou apresentar estes quatro temas com o Miguel e ainda a letra que foi entregue ao Rui.
Como disse, estes temas foram apenas o inicio. Mais para a frente falarei de muitos mais.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Em casa - Nós



Nós

Teu cabelo escadeado quando fica
Enlaçado nos meus dedos por um beijo
Às carícias harpejadas se dedica
E se entrega por amor e por desejo

Depois de já saber que o tempo pára
E quando já tropeço nos meus passos
Entrego-te o meu corpo que se ampara
No confortante quente dos teus braços

Os gestos vão ficando aleatórios
As bocas se tocando sem aviso
As roupas, esses meros acessórios
Deslizam pelos corpos de improviso 

Deitamos o desejo sobre a cama
Suando nosso amor incontrolado
E amando como já ninguém se ama
Fazemos do prazer um aliado

Salgámos o lençol que em desalinho
Enlaça docemente a tua (minha) perna
Entregas-me (entrego-te) de novo o teu (meu) carinho
Fazendo desta noite a noite eterna

O sol cumpre a função de te (me) acordar
E logo o teu (meu) olhar descobre o meu (teu)
Encostas-te (encosto-me) ao meu (teu) peito e sem falar
Dás (dou) vida ao novo dia que nasceu

O sol cumpre a função de te (me) acordar
E logo o teu (meu) olhar descobre o meu (teu)
Encostas-te (encosto-me) ao meu (teu) peito e sem falar
Dás (dou) vida ao novo dia que nasceu