Vontade de escrever
Quando se vai sozinho numa carruagem
Até que dá vontade de escrever
Pela janela ver a vida de passagem
E ver aquilo que não se quer ver
E num jornal dar a leitura repetida
Reler a bolsa e pensar – “talvez um dia”
Mas por agora é fazendo contas à vida
Ter fé no número que se tem p’rá lotaria
Uma canção que nos vem à lembrança
Numa cadência já habitual
De uma viagem feita dia a dia
Mas que por tudo nunca é igual
Alguém que passa meio cambaleando
Com a cadência já habitual
Quebrando a marcha, inicia o sono
Que vai mantê-lo até final
Na minha frente uma se sentava
Me perguntando se já tinha o Borda d’água
Como não tinha, ela a pés juntos me jurava
Que se o comprar nunca mais vou ter dor nem mágoa
E na estação onde ninguém se apeou
Ficou apenas o asfalto da calçada
E nem parece que o comboio ali passou
E se passou, foi como se não fosse nada
Quando se vai sozinho numa carruagem
Levando a jura da senhora já na mão
Pela janela ver o bairro de passagem
E já saber quanto é que falta para a estação
Quando se vai sozinho numa carruagem
Até que dá vontade de escrever
Sem comentários:
Enviar um comentário